Redemptoris Mater na Galiléia: Uma casa do "Caminho" a serviço da Evangelização
- Caritas Christi
- 9 de dez. de 2019
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Atualizado: 23 de jul. de 2022
Estamos ajudando na evangelização da península arábica e esta é uma casa que presta um grande serviço à Igreja. Nossa política aqui é Jesus Cristo, e vemos muitos frutos."O Senhor sempre escolhe aquele que está ferido, para curar e transformar as suas feridas".

Há mais de uma década, na Galileia, sobre o monte onde Jesus proclamou as bem-aventuranças e junto ao lago em que Ele andou sobre as águas, se erigiu o Seminário Internacional Redemptoris Mater, sob a orientação do Caminho Neocatecumenal.
Seminaristas de quatorze nacionalidades, dos ritos latino, maronita e greco-melquita ali se preparam para o sacerdócio na Terra-Santa. Os que já foram ordenados atendem e evangelizam em Israel, nos territórios palestinos, Jordânia e em muitos outros países da península arábica.
O reitor do seminário é Francesco Voltaggio, sacerdote romano, que está há mais de quinze anos na Terra-Santa, onde chegou para doutorar-se em Arqueologia e Estudos Bíblicos, e de onde nunca mais regressou. Feliz por estar cumprindo um sonho que tinha desde criança, conta-nos as maravilhas de se viver nestas terras, da importância da missão evangelizadora que tem pela frente e dos milagres que se veem entre os cristãos e os não cristãos que vivem na terra onde nasceu Jesus Cristo.
- Alguma vez, sequer sonhou que acabaria na Terra-Santa? Como surgiu a sua vocação ao sacerdócio?
- Quando eu tinha 4 anos, meus pais nos levaram, a mim e aos meus 4 irmãos, a uma peregrinação à Terra-Santa, para celebrar as suas bodas de prata. Desde essa idade meu sonho era regressar à Terra-Santa e poder aprender as línguas árabe e hebraica, mas nunca imaginei que seria enviado para a Terra-Santa como sacerdote (coisa que nunca pedi) para fazer o meu doutorado em Arqueologia e Ciências Bíblicas e, ainda mais, permanecer aqui como reitor do Seminário "Redemptoris Mater" da Galileia.
Minha vocação nasceu em 1993, graças ao CAMINHO NEOCATECUMENAL e pela Jornada Mundial da Juventude com São João Paulo II, em Denver, nos Estados Unidos. Naquela ocasião, senti fortemente que o Senhor me chamava ao presbiterato e, naquele mesmo ano, depois de um cuidadoso discernimento vocacional, fui ingressado no Seminário "Redemptoris Mater" de Roma.

- Como é a vida na Terra-Santa?
- A experiência na Terra-Santa é sempre muito rica, especialmente pelo contato com os lugares santos para a nossa fé, pela possibilidade de escrutar a Sagrada Escritura e os acontecimentos da salvação nos mesmos lugares onde eles ocorreram, pelo conhecimento dos cristãos da Terra-Santa e das igrejas orientais, pelo contato com os nosso queridos irmãos ortodoxos, com os judeus e os árabes (cristãos e muçulmanos).
Em uma palavra, o desafio de viver o cristianismo numa verdadeira encruzilhada de povos, culturas, religiões e diferentes ritos cristãos. temos experimentado tempos difíceis, especialmente nos tempos de maior conflito: tocar as feridas desta terra, no entanto, me ajudou a entender que Deus a escolheu, não por essas feridas, mas por causa delas. "O Senhor sempre escolhe aquele que está ferido, para curar e transformar as suas feridas".

- Como é esse seminário? Há jovens de todo o mundo; como reagem os seminaristas ao chegar a uma região onde existem diferentes ritos católicos?
- O Seminário "Redemptoris Mater" da Galileia foi criado pelo Patriarcado Latino de Jerusalém, em comunhão com o Arcebispo greco-católico da Galileia e pelo Arcebispo maronita da terra-Santa: é um seminário onde se formam presbíteros diocesanos para a Igreja local, da Terra-Santa, e todos eles dispostos e serem enviados a qualquer parte do mundo, mas especialmente para o Oriente Médio, como missionários. No seminário temos seminaristas de quatorze nacionalidades e três ritos diferentes: além dos candidatos do rito latino, temos também candidatos aos rito greco-católico e maronita. Todos os seminaristas são formados no conhecimento e no amor pelas igrejas orientais, suas liturgias e tradições, com as quais vivem em íntimo contato.
- Existem vocações da própria Terra-Santa?
- Temos por volta de trinta comunidades neocatecumenais na Terra-Santa, nas quais surgem vocações locais, jovens procedentes da Galiléia (mais exatamente de Fassuta, Me'elia e Ailaboun) e do centro do país (Jaffa de Tel Aviv). No ano passado se ordenou o primeiro sacerdote do rito maronita, Rodi Noura, um israelense originário do Líbano, encardinado na Arquidiocese maronita de Haifa e Terra-Santa, e também o primeiro diácono árabe, encardinado no Patriarcado latino de jerusalém, Sliman Hifawi, de Jaffa de Tel Aviv. Também temos um centro vocacional, onde ajudamos a muitos jovens da igreja local a discernirem a sua vocação e os preparamos para ingressarem no seminário, desde que realmente sejam "chamados" pelo senhor.

- Vocês têm visto conversões? As pessoas voltam à Igreja nesta Terra-Santa?
- Estamos vendo muitos frutos na Terra-Santa. Posso dar meu testemunho da obra que Deus está realizando aqui, através do Caminho Neocatecumenal. Alguns cristãos, graças a este itinerário de iniciação cristã, redescobrem a beleza de serem cristãos. Muitos daqueles que deixaram de professar a fé cristã, têm voltado com entusiasmo à Igreja. Os cristãos da Terra-Santa, chamados a ser luz e sal no mundo, são uma minoria: como sempre dizemos, o mais importante é que "o sal seja sal e a luz seja luz".
Nesse sentido, estamos vendo muitos frutos: jovens e famílias inteiras, cristãos somente na tradição, que voltam à fé, voltam à vida e dão sinais da sua fé onde moram. Eu poderia contar muitas histórias. Mas vou contar-lhes apenas a história do Padre Roudi Noura, do qual falamos anteriormente, que com sua família, juntamente com outros milhares de cristãos libaneses, por causa da guerra no Líbano, teve que fugir para Israel como um refugiado.

Os muçulmanos deram a ele e à sua família quinze minutos para pegar suas coisas e fugirem do Líbano. Em poucas horas se encontraram em Israel, que lhes deu as boas-vindas, num ambiente totalmente diferente daquele em que viviam: de uma cidade totalmente cristã onde a Igreja era o centro de tudo, agora estavam numa cidade judaica, Naharia. Aquilo lhe trouxe muitas feridas: Com apenas oito anos de idade, encontrava-se agora como um refugiado e tinha que começar a vida muito cedo, estudar em escolas judias, estar num mundo totalmente secularizado e diferente daquele onde até pouco tempo vivia, sem a menor possibilidade de regressar à sua pátria. Roudi entrou então no Caminho Neocatecumenal, que o ajudou a reconciliar-se com a sua história e ama-la, a amar a Jesus Cristo e a Igreja com muito mais profundidade. Das suas feridas Deus tirou a sua salvação e a sua vocação ao sacerdócio.
- O Seminário Redemptoris Mater está na Domus Galileae, um centro católico internacional administrado pelo Caminho Neocatecumenal. Como veem isso os judeus e os demais visitantes?
- A Domus Galileae é um centro internacional construído no Monte das Bem-Aventuranças e inaugurado por São João paulo II durante a sua hístórica visita à Terra-Santa por ocasião do Grande Jubileu do ano 2000, construída em um terreno franciscano e graças à generosidade dos padres franciscanos.
É uma casa que presta um grande serviço à Igreja. Dá as boas-vindas às comunidades neocatecumenais que concluem o "itinerário" de iniciação cristã, também a muitos Bispos, sacerdotes, seminaristas e leigos, que podem assim viver uma experiência inesquecível junto ao ar da Galileia. Além disso, a casa acolhe diariamente aos peregrinos de todo o mundo e a muitos moradores locais, especialmente árabes cristãos e judeus.

Estamos muito impressionados com a quantidade de judeus que visitaram a Domus Galileae desde a sua inauguração. O diretor da Domus, o Padre Rino Rossi, que é também o responsável da equipe do Caminho Neocatecumenal na Terra-Santa, junto com outros nossos irmãos e irmãs que estão em missão na Domus, acolhem com amor os judeus que vêm aqui, e eles se surpreendem com a beleza e com a estética da casa e pelo espírito harmonioso encontrados ali (todos os que trabalham na Domus são voluntários do caminho Neocatecumenal). Fazem muitas perguntas aos seminaristas e estes lhes explicam tudo sobre a casa em hebraico, e nós aproveitamos essa oportunidade para dar testemunho e nossa experiência, tudo com muito amor e respeito. Por ocasião da inauguração da biblioteca da Domus, São João Paulo II escreveu uma carta, assinada pessoalmente por ele, onde manifesta a esperança de que na Domus se levarão adiante iniciativas para um diálogo mais profundo entre a Igreja católica e o mundo judaico. estamos trabalhando para cumprir essa intenção.
- Nas comunidades neocatecumenais suponho que há judeus e árabes cristãos. Como é a relação entre eles?
Nas comunidades neocatecumenais da Terra-Santa há muitos cristãos árabes que vivem em Israel e na Palestina, cristãos russos que têm nacionalidade israelense (Haifa) e trabalhadores imigrantes de diversas partes do mundo (em Eliat temos uma comunidade com irmãos de quinze nacionalidades diferentes).
A relação entre eles é excelente: o Senhor nos dá uma profunda comunhão. Nossa política é Jesus Cristo, tal como se lê na Carta a Diagoneto: "Toda terra estranha é uma pátria para os cristãos, mas eles estão em toda pátria como em terra estranha". O que tratamos de fazer no Caminho e no seminário, deliberadamente internacional, é vencer os demônios do nacionalismo, o racismo, o provincialismo, etc... Trata-se de se formar em nós um homem novo, o homem celestial, que se destrua toda a inimizade e barreira entre os homens: no Caminho, todos os irmãos descobrem gradualmente, pouco-a-pouco, a Igreja Mãe, a Igreja Católica, que é por definção "universal".
- Como podem ajudar o caminho Neocatecumenal e esses futuros sacerdotes na terra-Santa?
Na Terra-Santa, os cristãos são um verdadeiro milagre: durante séculos eles se mantêm no meio de mil dificuldades e das hostilidades. O problema é que hoje ser cristão na Terra-Santa consiste, em muitos casos, em um evento social ou tradicional, ou também de identidade em relação aos fiéis de outras religiões. Não é fácil, por isso mesmo, estar bem preparado e ter uma vivência cristã de modo a resistir aos ataques da secularização, ou da tentação de entrar em conflitos políticos ou mesmo emigrar.

A maior parte do nosso trabalho, nesse sentido, está dirigido aos cristãos árabes da Terra-Santa. Em Israel (desde o norte da Galileia até o extremo sul, Eilat) e na Palestina (incluindo Belém, onde os primeiros a catequizar foram Kiko e Carmen) temos trinta comunidades; cinco na Jordânia, quatro em Chipre (que faz parte da Diocese do Patriarcado latino em jerusalém). Para além disso, estamos ajudando na evangelização da península arábica, onde temos umas vinte comunidades no Qatar, Bahrein e nos Emirados Árabes Unidos, Nesses países há muitos cristãos de todo o mundo que ali residem por motivo de trabalho e que desejam se aprofundar ou exercer a sua fé.
- O Caminho Neocatecumenal é sempre muito sensível com o povo judeu e muito próximo dele...
Como afirmou o Concílio Vaticano II (e antes, São paulo). o amor pelo povo judeu, que é onde está a raiz da nossa fé, é fundamental para a Igreja. Voltando às fontes do nosso batismo, o Caminho também tem descoberto um vínculo profundo com as Escrituras e toda a tradição judaica. Os iniciadores do Caminho, Kiko e Carmen (junto com o Padre Mário) nos têm transmitido não só o dom deste carisma, precioso para a Igreja, mas também o amor pelas escrituras, pelos Padres da Igreja, a liturgia e suas fontes, à tradição cristã ortodoxa e seus ícones, ao povo judeu, aos lugares santos da nossa fé. Carmen quis passar mais de um ano na Terra-Santa, para fazer "uma imersão", como ela dizia, nas Escrituras, nos lugares santos e nas raízes judaicas. Ela mesma, para ter como se manter, trabalhou em casas de árabes e judeus, entrando assim em contato com as suas tradições.
- A Sinfonia do Sofrimento dos Inocentes, ou a convivência de rabinos, colocam o Caminho na vanguarda do diálogo entre a Igreja Católica e o Jadaísmo?
Kiko compôs essa belíssima sinfonia do "Sofrimento dos Inocentes" a partir de sua experiência nas barracas de Madri, em honra ao sofrimento da Virgem maria em aos pés da cruz do seu Filho, sem pensar, em um primeiro momento, em uma referência direta ao povo judeu. Numa reunião de bispos no Estados Unidos com os iniciadores do Caminho, kiko quis lhes oferecer uma apresentação dessa sinfonia, convidando a orquestra, composta por músicos do caminho Neocatecumenal. Nessa ocasião, se decidiu convidar também para a sinfonia, alguns rabinos e autoridades judaicas e árabes. Os judeus sentiram uma emoção tão forte com a música e espírito da sinfonia que pediram que ela fosse apresentada em Jerusalém.
Por essa razão, a sinfonia foi oferecida de forma gratuita em Jerusalém, no Teatro Municipal e na Galileia, na presença de vários rabinos; em Belém, com a presença de milhares de palestinos; em seguida diante de 2.300 judeus em Nova Iorque (no prestigiado Avery Fisher Hall, em Manhattan) a pedido dos rabinos; e em Auschwitz-Birkenau, diante de mais de 12 mil pessoas, dentre elas a Conferência Episcopal da Polônia, vários Cardeais e Bispos, cem rabinos de todo o mundo, católicos e judeus de toda a Polônia. Na sequência desse evento, os rabinos pediram a Kiko que lhes organizasse uma convivência na Galileia, que já se fez por duas vezes. estiveram presentes ali, Cardeais, Bispos e líderes do Caminho Neocatecumenal, junto com centenas de rabinos de todo o mundo, com suas esposas. sem dúvida, esse foi um acontecimento único e inesquecível, também porque ali estiveram presentes judeus de maioria ortodoxa, junto com representantes das diversas correntes do judaísmo.
Tradução Masseif
Source: Fundacion Tierra Santa
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