Coragem, e vá em frente!
- Caritas Christi
- 24 de nov. de 2019
- 3 min de leitura
"Se em uma noite negra, sobre uma pedra negra, caminha uma formiga negra, Deus a vê e a ama".

Agora que este mês de Novembro termina, contarei uma história que me impressionou. Eu estou falando sobre esses dias, mas há quase quatro anos atrás...
Ele apareceu na minha casa e disse: você me conhece? Apesar de não nos vermos há 21 anos, eu disse, é claro, você é Juan! (permita-me que o nome seja alterado). A última vez que estivemos juntos foi na reunião de um grupo de adolescentes nas dependências de uma paróquia do bairro. Ele pertencia à Ação Católica, e eles acabavam de terminar uma etapa. Então, por causa das circunstâncias da vida, eu os perdi de vista.
Quer um café? Agora me pergunto por que sempre ofereço café para quem vem à minha casa. Não, ele respondeu e começou a chorar compulsivamente. Quando ele pôde enfim falar, me disse: Eu fui diagnosticado com câncer de cólon. Eles descobriram tarde demais e eu tenho metástase. Eu estava lívido, Juan tinha apenas 37 anos. O melhor foi o silêncio. O que eu poderia dizer a ele?
Sem pensar, sentei-me ao seu lado e dei-lhe um longo e longo abraço. Nós dois choramos. Em minha mente, as imagens de seu grupo passaram, de quando éramos crianças e fomos acampar ou caminhar pelas florestas de faias. E aquelas reuniões no salão paroquial todo descascado que decoramos, entre todas, o melhor que pudemos.
Ele me disse: "Eu vim aqui para que me ajudes a entender e aceitar a minha morte". E conversamos por dias e dias sobre a vida. Daquilo que ele havia feito durante essas quase quatro décadas. Das pessoas que ele amara, além de seus pais, dos seus irmãos, de sua companheira. De como havia ajudado os outros. De que momentos ele se lembrava, de alegria e de dor.
De quantas pessoas o influenciaram positivamente, acompanhando-o, talvez, sem fingir. De quantos que o ajudaram em algum momento, sem esperar nada em troca. Tínhamos que dar sentido a todas as peças desse extenso quebra-cabeça e colocá-las uma a uma, sem nenhuma pressa e, no final, nos perguntar "onde Deus estava passando em tudo isso".
Sua companheira, com quem ele viveu quatro anos, deixou-o no pior momento de sua vida, quando ele começou a enfraquecer por causa da doença e passou a ser quase uma sombra do que havia sido no passado. Juan teve que ir morar na casa de sua mãe viúva, onde "bateu a porta" nos loucos anos da juventude. Mas a mãe foi a única que o acolheu e entendeu. Como se nada tivesse acontecido, ele me disse. A partir daí, é onde mais encontramos com Deus. Juan se sentia como o filho pródigo da parábola, que se lembrava ter ouvido nas reuniões do grupo. É incrível, as coisas que as crianças conseguem lembrar quando você pensa que não estão prestando atenção em você.
Com que cara eu apareço diante de Deus, ele disse. Com a mesma do filho pródigo. Não esqueça que a única coisa que o levou a voltar é que ele estava com fome, ele precisava comer (o que ele não sabia é que precisava de muito mais, precisava de amor). É isso que o Pai lhe dá primeiro, sem perguntar nada, sem deixá-lo falar, ele o cobriu de beijos.
Isso acalmou seu coração, era a melhor imagem da ressurreição. O amor transbordante do Pai alcançou a sua alma. Você não sabe como sinto dentro de mim, que vale a pena acreditar, ele disse.
Três anos se passaram desde aquela época, ele me ligou alguns dias depois para dizer adeus , eles iam sedá-lo, porque ele não aguentava mais a dor. Ele estava em paz. E quando eu estava saindo com lágrimas nos olhos, ele me chamou de volta e me disse algo que, pode parecer incrível, me fez sorrir, mas que se cumpriu depois de três dias. Coragem, e vá em frente!
Por: Antonio Gómez Cantero - Bispo de Teruel e Albarracín
Tradução e adaptação: Masseif
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